MÉTODOS DE INQUIRIÇÃO E PRODUÇÃO DE RELATOS DISTORCIDOS
UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE FALSAS MEMÓRIAS
Resumo
Este trabalho objetiva compreender a eficácia de modos diversos de coletas de provas testemunhais, verificar se modos específicos de coleta são capazes de gerar falsas memórias e relatos distorcidos e avaliar a influência de circunstâncias individuais na coleta de provas testemunhais. Para tanto, foi realizado um estudo quase-experimental com 20 voluntários, que presenciaram o mesmo evento surpresa e, posteriormente, foram interrogados com base em diferentes métodos de coletas de provas. Os interrogadores do grupo controle utilizaram métodos semelhantes aos da Entrevista Cognitiva, tipo de abordagem que leva em consideração as características individuais dos participantes, ausentes perguntas sugestivas ou confirmatórias. Em relação ao segundo grupo, “grupo dos induzidos”, os interrogadores ou já possuíam um suspeito de antemão, ou deveriam insistir na pergunta; deveriam seguir recomendações invasivas e não poderiam permitir que as testemunhas desenvolvessem seus pensamentos livremente. Todos os participantes foram interrogados um mês após o primeiro interrogatório, com o propósito de analisar a memória com o passar do tempo. Este “reinterrogatório” se deu de forma linear para a totalidade dos voluntários, tanto para os oriundos do grupo controle, quanto para os oriundos do “grupo dos induzidos”. Percebeu-se que os participantes interrogados com base na Entrevista Cognitiva obtiveram uma recordação mais fiel do evento se comparados àqueles interrogados a partir de métodos inquisitórios. Observou-se que métodos inquisitórios de coleta de prova testemunhal, o decurso do tempo e a idade dos participantes – quanto mais velhos, mais relatos distorcidos – influenciaram o teor dos testemunhos, tornando-os mais distorcidos quando comparados aos fatos do evento original gravados em áudio e vídeo.